Yoga e racismo | parte 1
- Mari de Carvalho

- 14 de jul. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de ago. de 2022
Raça e etnia são conceitos diferentes e até a metade do séc. XX raça era um conceito que classificava a diversidade humana tendo a cor da pele como principal critério e a galera dividia a humanidade em três raças: branca, preta e amarela. Foi com o desenvolvimento da genética e da biologia molecular que ficou comprovado que não há diferenças biológicas entre os seres humanos que justifiquem a classificação por raças.
Kabengele Munanga, um antropólogo que é referência em questões raciais no Brasil diz que o problema não está em classificar os seres humanos de acordo com a variabilidade de características físicas, pois a classificação de elementos em grupos semelhantes contribui para a organização do pensamento e do conhecimento científico. Porém, todavia, contudo, entretanto, os europeus, que pertencem à raça branca, criaram esta classificação com caráter de hierarquização, ou seja, coloca uma escala de valor entre as raças e afirma que há uma raça superior, no caso a branca. Sobre a classificação, o antropólogo diz que:
“O fizeram erigindo uma relação intrínseca entre o biológico (cor da pele, traços morfológicos) e as qualidades psicológicas, morais, intelectuais e culturais. Assim, os indivíduos da raça “branca”, foram decretados coletivamente superiores aos da raça “negra” e “amarela”, em função de suas características físicas hereditárias, tais como a cor clara da pele, o formato do crânio (dolicocefalia), a forma dos lábios, do nariz, do queixo, etc. que segundo pensavam, os tornam mais bonitos, mais inteligentes, mais honestos, mais inventivos, etc. e conseqüentemente mais aptos para dirigir e dominar as outras raças, principalmente a negra mais escura de todas e conseqüentemente considerada como a mais estúpida, mais emocional, menos honesta, menos inteligente e portanto a mais sujeita à escravidão e a todas as formas de dominação.”
Hoje, o conceito de raça não tem validade no campo das ciências naturais, mas ele se mantem como um conceito das ciências sociais para estudar, debater e criticar as desigualdades existentes entre as raças na sociedade, como por exemplo o racismo.
Racismo (raça+ -ismo)
1. Teoria que defende a superioridade de um grupo sobre outros, baseada num conceito de raça, preconizando, particularmente, a separação destes dentro de um país ou região (segregação racial) ou mesmo visando o extermínio de uma minoria.
2. Atitude ou comportamento sistematicamente hostil, discriminatório ou opressivo em relação a uma pessoa ou a um grupo de pessoas com base na sua origem étnica ou racial, em particular quando pertencem a uma minoria ou a uma comunidade marginalizada.
Agora vamos entender o conceito de etnia. De acordo com Munanga, “uma etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou mitologicamente, têm um ancestral comum; têm uma língua em comum, uma mesma religião ou cosmovisão; uma mesma cultura e moram geograficamente num mesmo território”. Assim, dentre os indivíduos de raça “branca”, “negra” ou “amarela”, podem existir diversas etnias. Por exemplo, os povos indígenas brasileiros (categoria da classificação de raça do IBGE) pertencem a várias etnias, como Yanomamis, Pataxós, Guaranis.
As características da cultura étnica também são alvo de preconceito, Kebengele escreveu que “o racismo hoje praticado nas sociedades contemporâneas não precisa mais do conceito de raça ou da variante biológica, ele se reformula com base nos conceitos de etnia, diferença cultural ou identidade cultural, mas as vítimas de hoje são as mesma de ontem e as raças de ontem são as etnias de hoje. O que mudou na realidade são os termos ou conceitos, mas o esquema ideológico que subentende a dominação e a exclusão ficou intacto”.
Tendo isso claro, agora vamos falar sobre Índia.
Esse país, conhecido como o berço do Yoga é um dentre muitos grupos do continente asiático que possuem uma imigração forte no Brasil. E quando esses grupos chegam por aqui, eles são comumente enquadrados como "quase" brancos. Essa visão distorcida é muito importante e complementa a linha de raciocínio que vamos trabalhar por aqui nesse quadro Yoga e Racismo e por isso eu te indico a leitura do livro "Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente" de Edward Said para engrossar esse caldo e nos vemos na parte 2 dessa discussão.
Material complementar
Artigo de Kebengele Munanga:
Edward Said - Framed: The Politics of Stereotypes in News








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